19 de outubro de 2010


Capítulo VIII

Acordei quase jogando meu despertador pela janela. Havia esquecido completamente que tinha aula naquela manhã. Me levantei devagar, um pouco tonta e fui me arrastando para o banheiro. Se salvei meu despertador, bem que podia compensar minha bondade com o espelho, não é? Odeio ser bondosa e odeio minha cara de sono. Tomei um banho, não tão demorado quanto gostaria, vesti a saia pregueada cinza do uniforme, uma camisa branca com babadinhos no colo que eu adoro e um par de sapatos na cor creme com lacinhos. Pelo menos não somos obrigadas a usar o uniforme completo. Uma tiarinha xadrez cinza nos cabelos, um pouco de lápis, rímel e blush na cor pêssego, um hidratante labial incolor e pronto.
Desci para tomar café da manhã e me torturei ao ver a mesa cheia de coisas deliciosas e calóricas. Entretanto consegui me segurar, e acabei comendo um pouco de iogurte desnatado com morangos, suco de maracujá, e uma torrada com patê de ricota.
Mal tive tempo de engoli-la, porque saí correndo e entrei no taxi quase deixando a porta a aberta ao gritar
- Vai! Vai!
Porque, como sempre, estava atrasada. Cheguei no colégio quase aos saltos, batendo todas as portas que haviam no meu caminho até o final do corredor do segundo andar. Aula de francês, Professora Abigail Carter, que azar!
- Com licença. Desculpe-me Sra. Carter. Posso entrar?
- Senhorita, Faske, senhorita!
- Srta. Carter, claro. Posso entrar?
- Não posso te negar não é? Já fez o favor de atrapalhar a aula. Você é indecente as vezes. Não sei o motivo de tanta dificuldade para chegar na hora.
Entrei e sentei em uma carteira do fundo. Senhorita? Vai sonhando vovózinha. Só porque não se casou, não quer dizer que sempre será senhorita. Você está um bagaço.
A manhã passou rápido, a não ser o fato irritante de que Kayla me observava com os olhos tristes e curiosos e a cada intervalo de aula, se aproximava e tentava conversar. Eu simplesmente saía de perto e ia conversar com minhas outras amigas, ia ao banheiro retocar a maquiagem, ou simplesmente colocava os fones de ouvido e deixava o volume da música no máximo, dizendo que agora queria relaxar um pouco. Isso realmente funcionou, mas só até o almoço.
Estávamos sentadas em uma mesa, todas nós. Allice, Monique, Ashlee, Lindsay e Valery.
Quer dizer, amigas sim, mas algumas são um pouco invejosas, principalmente quando seu vestido é mais bonito, sua bolsa é mais cara, seus dentes são mais brancos e seus cabelos são mais brilhantes. Eu entendo, normalmente sentem alguma inveja de mim.
Estava comendo minha salada de alface com cogumelos e bebendo minha água sem gás quando Kayla se aproximou e pediu para falar comigo. Levantei a cabeça devagar, olhei para ela com indiferença e me levantei.
- Claro.
- Eu juro Kat, não sei o que eu fiz pra você. Nunca seria capaz de fazer nada que te magoasse, não quero o seu mal, você sabe. Você tem de acreditar em mim, eu sou sua melhor amiga. O que te fiz?
- Hum, terminou?
Ela afirmou com a cabeça.
- Então acho que posso dizer agora. São cinco coisas. Primeira, se você não sabe o que me fez, com certeza deve ter feito muito mais para não saber a que estou me referindo, coisas que eu não devo saber até hoje, a propósito. Segunda, eu também achava que você não era capaz de fazer nada que me chateasse, mas eu vi que você é realmente muito, mas muito capaz disso e de algumas coisas mais. Terceira, preciso rever meus conceitos, já que também achava que você não queria o meu mal e no final acabou fazendo isso comigo. Quarta, eu podia acreditar em você se eu quisesse, mas eu seria burra, então, não quero, obrigada. E a quinta, mas não menos importante, você era minha melhor amiga, porque agora, de melhor e de amiga você não tem nada.
Sorri e sentei novamente. Uma lágrima caiu sobre a mesa. Água? Não obrigada, ainda não terminei meu copo. E de repente, ela começou a gritar pelo refeitório, uma louca.
- Mas o que eu te fiz de tão horrível para você me tratar assim?!
- Assim? Assim como? Estou te envergonhando na frente de todas? Não, é você quem está fazendo isso.
- Você é tão cruel!
- Crueldade, uma boa palavra. Combina com você, sua sem coração. Não se compra um coração sabia? Só porque você não tem, não tem de acabar com o meu.
- Cruel? Como se eu fosse você!
Ela gritou tanto que minha paciência se esgotou, então, no final elevei minha voz também.
- É mesmo! Se você fosse eu, você não teria se agarrado com o ex namorado da melhor amiga!
Ela parou de gritar, e agora as lágrimas caíam uma atrás da outra, até ela sair correndo para o banheiro.
Me sentei e voltei a comer. Agora, no refeitório só ouvia os burburinhos, e em minha mesa via olhares curiosos.
- Ok, quando vão começar a perguntar, meninas?
Nós rimos e eu contei para elas o que vi. Que elas saibam do que Kayla fez.

14 de outubro de 2010

Capítulo VII

Me virei devagar e sorri. Ela não era inteligente o bastante para notar minha ironia? Talvez não fosse mesmo, mas eu já estava acostumada com o lento raciocínio.
- Foi uma decisão meio repentina, mas, estou aqui.
- E bem bronzeada também! Você está um arraso! Ah, e adorei o vestido!
- Obrigada querida, o esforço para achá-lo valeu a pena, então.
- Estou tão feliz de ver você!
O silêncio reinou por alguns instantes. Ela estava esperando que eu dissesse o mesmo? Não estou feliz de ter que suportá-la no mesmo ambiente outra vez. Não mesmo.
Então ela deu um passo para frente e abriu seus braços. E eu, no mesmo instante dei um passo para trás.
- Desculpe-nos Kayla, estamos meio ocupados agora. Podemos conversar outra hora?
Sorri para Zac e o beijei. Ele entendeu a jogada e entrou na brincadeira. Ela ficou parada ali por praticamente quatro segundos, imagino que pasma, e depois saiu. Nos beijamos mais, rimos, nos beijamos rindo. Foi divertido, mas Zac me amava de verdade. Por que seria tão cruel?
Parei e me afastei um pouco. Ele me olhou questionável, e esperançoso buscou meus lábios outra vez.
- Desculpe Zac, obrigada por me ajudar, mas certas coisas devem ser evitadas, antes que alguém aqui se machuque.
- Não quero piedade, não quero pedido de desculpas. Me use, não me importo Kat.
- Desculpe, eu não quero partir corações e nem quero que minha consciência pese sobre mim todas as noites. Você sabe de quanta maquiagem se precisa para cobrir olheiras?
Rimos e nos abraçamos. Ele era um ótimo amigo. Seria um bom namorado, se eu o amasse. Enquanto isso meu coração estúpido continuava gostando de sofrer. Coração estúpido. Fomos nos juntar a alguns amigos para conversar, beber um pouco e rir de tudo. Infelizmente não ri de muita coisa porque minha mente estava longe.
Senti um pouco de falta de ar e me levantei para ir ao jardim. Tive a impressão de que alguém me seguia, mas devia ser Zac. Olhei para o céu pensativa. Incrível como é tão lindo, e ninguém sente inveja dele. É só essas pessoas olharem para cima para as estrelas queimarem.
- Você está, incrivelmente, maravilhosamente e irresistívelmente linda.
Sorri por dentro, um sorriso vingativo e delicioso.
- Não fiz muito esforço.
Me virei para encará-lo e ele tentou segurar minhas mãos, mas eu as puxei de volta um segundo depois.
- Kat, eu estou arrependido.
- Você se arrepende de muita coisa, Phillip.
- Não, é verdade dessa vez, eu juro. Sabe que eu não entendia quando diziam que não sabemos o que temos até perder? Eu confesso que pouco me importava, até ver você hoje, tão linda, beijando o Zac. Senti tanto ciúmes que desejei ser ele mais do que tudo.
- Querido, se você fosse Zac, você prestaria.
Ele pensou em algo para falar, mas antes que pudesse se justificar, sorri para ele e voltei para a festa. O resto da noite passou rápido e foi muito divertido. Agora estava feliz de estar de volta, afinal, o que é melhor do que ouvir de um garoto que a fez sofrer, que está arrependido? E poder humilhá-lo sem sentir pena? Fui dormir muito bem naquela noite.

12 de outubro de 2010

Capítulo VI

Passei horas indo de loja em loja, mas achei um vestido cinza muito bonito, que acaba uma palma acima do joelho, com um efeito manchado de preto na parte de baixo e aberto nas costas. É claro que a princípio lhe parece um pouco simples, mas eu não preciso de um vestido rebocado para chamar a atenção. Voltei para casa, tomei um banho de banheira para tirar todo o estresse pós-viagem. Fiquei ali dentro um pouco demais, pois acabei dormindo. Então, quando acordei, assustada, sai num salto para fora. Olhei para minhas mãos, e me horrorizei ao ver os dedos enrugados. Precisava encontrar uma solução, e rápido! Coloquei o vestido, procurei por um bom par de sapatos. Escolhi um amarelo, para ter um pouco de cor naquela roupa tão cinza e naquela festa tão... cinza? Peguei uma bolsa de mão preta básica, passei perfume, coloquei um par de brincos discretos, mas uma pulseira de diamantes na mão esquerda. Sombra preta, delineador, cílios postiços, e um batom bege nos lábios. Queria dar destaque aos meus olhos, para desafiar quem achava que teria coragem de me olhar sem medo. Olhei para minhas mãos, e então as vesti em luvinhas curtas de renda preta. Problema resolvido. Usei alguns grampos para prender o cabelo em um coque despojado, e pronto. Estava totalmente pronta para entrar no território do inimigo. Iria surpreender muito, afinal, poucos sabiam que eu estava de volta.
Na limousine, a festa já começara. Eu, Monique, Tyle, Allice e David em nossa pré-festa. Incrível! Infelizmente o lugar não era longe, e eu teria de enfrentrar Phillip e Kayla logo. Disfarçaria sorrisos, manteria a compostura e engoliria cada choro. Posso ser uma bela covarde por trás dessa Kat tão segura de si. Mas isso, ninguém precisava saber.
Descemos, e logo na entrada vi rostos surpresos, animados, alguns falsos, eu admito, mas a maioria acenando. Acenei de volta, e entrei com confiança. Muitas pessoas já haviam chego.
- Kat! Meu Deus, que vestido lindo! Ah Meu Deus, que linda!
- Obrigada Ashlee, igualmente.
- Você está super bronzeada, que inveja!
Nós rimos, mas eu poderia ter acreditado facilmente que era inveja mesmo. Conversamos mais um pouco, até que alguém veio por trás e tapou meus olhos.
- Não precisa dizer nada. Zac!
Me virei e sorrimos juntos. Ele me abraçou forte.
- Que saudade! Os minutos pareciam horas e os dias, semanas, ou até meses!
- Mas Zac, não foi nem uma semana.
Ele falava comigo, mas eu estava um pouco distraída. Com os olhos varri o salão, até que o encontrei. Conversava com uma garota que estava de costas, mas eu a reconheci. Kayla havia cortado o cabelo e ficado loira. Bem loira, a propósito. E aí, ele também me viu. Nunca poderia esquecer seu rosto de surpresa. Ele ficou paralisado, parou de falar, e praticamente não piscava. Kayla se virou e foi na direção do olhar de Phil. E aí, mais um rosto de surpresa.
- Zac, vamos dançar!
Segurei-o pela mão e o puxei para a pista de dança. Estávamos dançando, e eu sentia que do outro lado do salão, eles ainda me olhavam. Cheguei mais perto de Zac e continuamos a dançar. Até que, Kayla sumira. Alguém me cutucou.
- Não avisa as amigas quando volta antes? Que saudade Kat!

9 de outubro de 2010



Capítulo V

Uma parte do vôo passei chorando, a outra dormindo. Incrível, vocês também não ficam completamente sonolentas quando choram? Só acordei pra comer um mini croissant de queijo suíço e tomar um suco de laranja. Sim, paro tudo que estou fazendo para comer, sou uma infeliz. Chegamos antes do que eu esperava. Preferia que o vôo tivesse durado mais umas 4 horas, e eu não me importaria. Não queria mais ter voltado, depois de ter deixado Joe daquele jeito. Nem para Zac e muito, muito menos para Phil.
Mas não havia mais saída, vesti meu casaco sobretudo preferido e deixei o avião. Estava um pouco frio, mas estava de volta para minha querida Nova York. Dei um beijo em meus pais e disse que iria para a casa de Kayla direto do aeroporto.
Peguei um taxi, e no caminho peguei meu celular para ligá-la. Chamava e chamava, e ela não atendia. Achei estranho, ela sempre atendia o celular.
O carro parou em frente ao prédio. Estava pagando o taxista, e me preparando para descer, quando o vi na portaria. Sem dúvidas, era ele. Phil beijou-a e foi embora. Não consegui me mexer. Minha amiga, minha melhor amiga fez isso comigo. Como se não fosse suficiente sofrer por um, agora tenho de sofrer por dois. Pedi ao taxista que continuasse, e me deixasse no Central Park.
Sentei para apreciar a vista. Alguns segundos para me certificar de que ninguém conhecido estava ali por perto e aí comecei a chorar. Minhas lágrimas pareciam que estavam fervendo. Só preciso de um tempo, e todos se arrependerão. Sou Kat Dillemoure Faske, que eles não se esqueçam.
De repente meu celular tocou.
- Meu Deus, garota! Onde você está? Encontrei com seus pais. Você não ia voltar depois?
- Oi Moni. Tivemos de voltar antes porque meu pai teve de resolver alguns problemas no trabalho.
- Sorte sua! Sorte nossa! Tem compromissos pra hoje?
- Acho que...
- Agora tem! Recebemos o convite para a Grey Party. Provavelmente quando chegar em casa, você verá. Estou muito animada.
- Sinceramente eu não estou muito bem para ir em festa hoje.
- Kat, o que houve com você? Você é uma das pessoas mais festeiras que eu conheço em Nova York!
Fiquei um tempo em silêncio. Eles queriam acabar com a minha vida? Não podia deixar isso acontecer. Iria nessa festa de cabeça erguida.
- Vamos na Grey Party!
Desliguei o celular e sorri. Eu gosto de Monique, as vezes acho-a um pouco louca, mas ela é uma boa amiga. Então me levantei e fui fazer algumas compras especiais.