25 de setembro de 2010

Capítulo IV

A água estava mesmo gelada, mas a essa altura, eu pouco me importava. Fazia tempo que não me sentia bem assim. Nunca me deixei levar por nada, por ninguém, mas agora só sentia as ondas me levando, me trazendo. É bom por um momento não ter que fazer escolhas, decisões. Apenas deixar.
Voltamos e sentamos na areia. Voltei a sentir frio. Ele se levantou, foi até seu jipe e pegou seu casaco. Colocou em volta de mim e me abraçou pra me aquecer. Sorrimos.
Conversamos mais, e por muitas horas. Só não sabia quantas. Com ele, eu juro, perdia a noção do tempo. Tiramos até algumas fotos. E admirei-o totalmente ao ouvir ele tocar violão. Amo caras que tocam violão. Isso para mim poderia ter durado pra sempre, mas precisava ir embora.
Pedi que ele me levasse em casa. O jipe parou em frente à minha casa e eu agradeci, disse que tinha sido maravilhoso.
- Maravilhoso foi ter conhecido você Kat.
Ele pegou com carinho uma mecha do meu cabelo que estava em meu rosto e a pôs pra trás. Aproximou seu rosto do meu e eu virei a cabeça para o lado. Ele era perfeito, mas eu mal o conhecia. Sou Kat, não qualquer garota. Então ele sorriu, como se me dissesse que entendia, me deu um beijo na bochecha, mas tão carinhoso que tive de descer do jipe rapidamente para poder resistir.
Entrei em casa e meus pais haviam chego também. Tomei um banho, tirei o resto da maquiagem e desabei na cama.
Acordei, e vi que o dia estava lindo. Coloquei meu biquíni preferido e corri pra praia. Queria poder roubar o mar só pra mim. Estava tudo ótimo. Nem pensava mais em Phil. Quer dizer, devia estar tudo ótimo.
Teríamos de voltar pra casa. Meu pai teria de resolver alguns problemas em sua empresa, e não podíamos ficar. Entrei em desespero, e chorei. Voltar para casa significava voltar a sofrer com uma ferida que ainda não se curou totalmente. E significava ir embora, de Joe.
As horas se passavam rápidas demais, já estava escurescendo. Estava deitada de costas na areia observando a lua aparecer aos poucos no céu, quando ouvi o som de um violão. Ele, vinha lá de longe, e se aproximava de mim. Um sorriso lindo no rosto. Tentei disfarçar, mas acho que meu sorriso não o convenceu.
- O que houve Kat?
- Joe, eu... eu vou embora hoje.
Ele olhou para baixo por uns segundos e deixou seu violão de lado. Sua voz agora era baixinha e falhada.
- Por que? Você acha que está na hora de voltar para aquele outro cara?
Eu procurei por suas mãos, segurei-as forte para mostrá-lo que estava falando a verdade.
- Não, apareceram alguns problemas na empresa de meu pai e ele terá de resolver isso o quanto antes.
- Eu não sabia que teria de me despedir tão cedo. Isso é tão péssimo. Não sei nem como explicar o que estou sentindo agora. Não tem outro jeito? Nenhum outro?
Neguei com a cabeça e minha visão ficou embaçada. Chorona. Nos abraçamos, e eu o senti tão presente. Era como se fosse uma onda, que me puxasse tão pra perto, que não quisesse mais me deixar voltar à areia. Não sentia isso quando abraçava Phillip.
- Eu vinha te fazer um novo convite, mas agora, tudo mudou. Te trouxe um buquê de flores, mas você não vai poder levar com você não é? Pelo menos uma coisa você vai poder levar, é a minha preferida.
Se afastou um pouco, e procurou por algo em seus bolsos. Me entregou uma foto de ontem. Era linda. Estavamos rindo, abraçados. Eu me via sorrindo de verdade. Não disfarçava, não queria esconder minha tristeza. Porque eu estava realmente feliz.
Mas estava na hora de ir e as malas já estavam prontas. Nos beijamos. Nos abraçamos forte e nos beijamos como se o mundo estivesse acabando. De fato meu mundo estava desabando, mas isso iria acontecer logo, de qualquer modo.

17 de setembro de 2010

Capítulo III

Desliguei o telefone e corri para o quarto. Abri a mala e tirei meu mais novo vestido bandage, preto básico. Um par de peep toe cor de melancia. Uma bolsa de mão preta com tachas. Um pouco de sombra preta rente aos cílios, rímel preto, e o mínimo de blush, só para dar uma coradinha. Perfume, brincos discretos, e um grande anel de pedra preta. Uma ajeitadinha no cabelo e, voilà. Quinze minutos depois ele apareceu em frente à minha casa em seu jipe vermelho. E eu, acostumada a sair com homens de BMW. Isso soou esnobe, mas foi apenas uma observação.
Abriu a porta e desceu lentamente, ou estava ficando louca? Era um filme? Se aproximou e me cumprimentou delicadamente, com um beijo em minha mão. Conversamos um pouco e ele me convidou a entrar no jipe. A noite estava perfeita. Lua cheia, noite quente. Fechei os olhos para sentir o vento em meus cabelos. Aos poucos comecei a ouvir uma música que ficava cada vez mais alta. Abri os olhos. O jipe parou em frente a uma casa. Era uma festa. Ele me explicou que só ficaríamos um pouco, pois prometeu à sua amiga que viria.
Uma festa em que não conhecia ninguém, e provavelmente me sentiria uma estranha. E não seria uma? Eu, Kat, que em minha cidade, sou convidada para tudo, aqui preciso acompanhar pessoas.
Enfim, festa é festa, e eu amo isso. Dançamos por horas, conversamos muito e realmente nos divertimos. Mas de repente começou a tocar "You and me" de Lifehouse, uma música que sempre ouvia Phillip cantando. Nunca achei especial, mas naqueles dias, tudo o que me lembrava ele, era especial. Senti um aperto tão grande.
Sai rápido para a varanda, que dava na praia. Nem olhei para trás. Não expliquei. Me sentei na areia, e chorei. Parecia que o barulho do mar saía de dentro de mim. A dor me inundava. Alguns minutos de silêncio. E Joe sentou ao meu lado.
O silêncio continuou. Ele sabia que eu não queria falar nada naquele momento. Me abraçou de leve, encostei minha cabeça em seu ombro. Como conseguia ser tão fofo?
Depois de um tempo, ele enxugou minhas lágrimas com os dedos e segurou minha mão. Eu queria falar.
- É muito triste sofrermos por um outro alguém que pouco se importa com você, não acha?
- Acho. Mas acho ainda mais triste você esconder seu sorriso lindo com esse choro.
Eu sorri um pouco, e me senti corada. E não, não era só o blush.
- Não quero mais pensar nisso, eu estou aqui, estou longe dele. Eu estou aqui, com você. Esse deve ser meu motivo para sorrir.
Ele retribuiu o sorriso e beijou minha testa.
E foi aí que eu pensei, nada melhor que acabar com as lágrimas, do que enfrentando-as.
- Será que a água está muito fria?
Levantei e o puxei pela mão.

15 de setembro de 2010

Capítulo II

E depois veio o almoço. Aquela salada estava realmente boa. O que meu pai faz de tão especial? Não é a toa que é um cozinheiro extremamente reconhecido. Salada, peixe grelhado com um molho delicioso e suco natural de laranja. Depois fomos passear pela cidade. Sabe quando dizem que a cidade é um ovo?
Se você pensar grande pode preparar uma omelete, e deixá-lo mais interessante. Se é que você me entende. Um Deus Grego, a poucos metros de distância. Bronzeado, cabelos dourados, olhos azuis profundos. Trabalhava em uma lojinha de lembranças. Sim, um trabalho muito simples pra uma perfeição como aquela.
Passei devagar, senti que me notou. Entrei e comprei um caderninho de anotações, com uma capa da paisagem da praia. Tirei minha caneta de estimação da bolsa, e anotei com uma letra impecável o telefone da minha casa da praia. Ele tinha de me ligar, não tinha? E deixei em cima do balcão, com o dinheiro para pagar o caderninho e fui embora elegantemente. Posso preparar minha omelete agora.
O resto do dia não teve nada de especial, mas estar sentada na areia fina e clara, tomando água de côco, nunca deixaria de ser especial. Mas de repente, senti um desespero. Queria ir embora, voltar para... Zac? Voltei correndo para dentro e procurei por meus pais. Em cima da mesa, um bilhete. Haviam saído para jantar. E disseram que um rapaz ligou procurando por mim.
Retornei a ligação, e uma voz maravilhosa e rouca atendeu do outro lado.
- Saiba que é muito raro deixar meu telefone em um balcão.
Não estava vendo seu rosto, mas ele parecia estar sorrindo.
- Prometo levar isso em conta. A propósito, sou Joe.
- Joe. Bonito nome.
- Convenhamos, não mais bonito que Kat. Mora aqui?
- Não, infelizmente. Meus pais têm essa casa, mas na verdade moramos um pouco longe.
- Que pena! Já sabe quanto tempo vai ficar?
Parei por um momento. Não podia ir agora. Sorri para mim mesma e respondi
- Mais dois dias. Seria suficiente?
Ele riu. E até sua risada era bom de se ouvir.
- Só se aceitasse sair comigo.
- Diga e eu pensarei com carinho.
- Hum, tem algo para hoje?
- Não, mas não sou tão fácil quanto pareço. Um número de telefone é apenas um número não é?
Rimos. Mas no fundo eu queria sair hoje.
- Qual é o endereço Kat?

13 de setembro de 2010

não sei se alguém vai ler isso. mas eu realmente senti falta de escrever aqui :)
vou fazer uma história, aos poucos, mas ela não será longa. vamos ver no que vai dar.




Não se compra um coração

Capítulo I
Atravessei a rua correndo. Perdi o taxi, e meus pais estavam me esperando. Íamos viajar. Achei bom a princípio, pois precisava ficar longe de Phillip por uns dias. Mas agora, sentia meu coração apertado como se estivesse partindo pra sempre. Como se estivesse deixando meu inútil coração aqui, com ele. E ele mal sabia. Isso dói.
Passei pelo grande relógio da praça da principal. 16h30. Estava definitivamente atrasada. Mas achava que era tarde demais para ligar para casa e dizer que podiam ir sem mim, que ficaria na casa de Kayla. Em um movimento quase que involuntário e rápido, tirei meu celular de dentro da bolsa. Ligando para casa? Antes fosse.
- Phil, estou indo viajar. Ficarei incomunicável por uns dias. Alguma palavra? Uma frase? Algo mais? E eu fico.
Pude sentir o silêncio me queimando por dentro. Os segundos passavam e meus olhos ardiam.
- Desculpe, Kat. Nada mais.
Desliguei o celular, e continuei correndo contra o vento. As lágrimas vieram discretas. Mas por dentro me sufocavam. Nunca mais ia procurá-lo. Nunca mais.
Cheguei em casa, já estava tudo pronto. Depois disso, a única coisa que eu queria, era entrar naquele avião.
Fui ouvir um pouco de música, mas todas me lembravam Phillip. Então, deitei a cabeça no banco, e fechei os olhos. Chorar me deixou definitivamente cansada. Dormi por muito tempo, e só percebi isso quando acordei horas depois com a forte luz do sol que vinha da janelinha do avião, direto em meu rosto.
Bem cedinho, novo dia. As únicas coisas realmente comestíveis do café da manhã foi a salada de frutas e a tortinha de maçã. Comida de avião não era de minha preferência. Mas dormindo perdi tantas refeiçõezinhas como essa, que estava faminta. Depois, o tempo não foi tão injusto comigo, e o resto da viagem passou depressa.
Logo que chegamos à casa da praia, tirei o salto, e fui correndo molhar meus pés na água. Sentia falta do calor, morando em uma cidade tão congelante. Areia quente entre meus dedos, aquele mar. Aquele verde. Tão lindo quanto os olhos dele. Senti outra lágrima escorrer.
Não podia me deixar abater. Ele não tinha coração. Se não tinha, não significava que teria de dá-lo o meu. Tinha quem merecia mais. Zac. Ele sim merecia. Pude perceber um leve sorriso em meu rosto.